quinta-feira, 5 de julho de 2007

Porcelana chinesa

Garrafa de peregrino
Porcelana azul e branca
China, dinastia Ming,
período Wanli
(1573-1619), finais do
séc. XVI - inícios do séc. XVII
Inv.: CMAG 32


A colecção de porcelana da China de 379 peças é, na sua maioria, datável de entre os séculos XVI e finais do XVIII, correspondendo a exemplares provenientes do comércio de porcelana chinesa de exportação. De período anterior existem duas taças, uma Cizhou e outra qingbai datáveis do século XII, Dinastia Song (960-1279), de grande importância artística

O núcleo principal inicia-se com peças da dinastia Ming (1368-1644) através dum importante grupo de porcelana azul e branca decorada com motivos populares da gramática decorativa chinesa - enrolamentos de flores de lótus e peónias, gamos, dragões, fénix, leões e paisagens - representados em pratos, taças e garrafas datáveis do século XVI correspondendo ao período de domínio português nos mares do Oriente. Existe ainda um pote pintado com o tema das crianças brincando com a marca imperial do imperador Jiajing (1522-1566).

Ainda da dinastia Ming, mas do período de Wanli (1573-1619) a colecção guarda exemplares de importante referência, destacando-se a garrafa, uma encomenda especificamente europeia, com as armas de Filipe II de Espanha, monarca que reinou em Portugal entre 1580 e 1598. Surge-nos, ainda, o grupo Kraakporselein, denominação adoptada pelos holandeses por estas serem porcelanas originalmente transportadas nas carracas portuguesas, com exemplares importantes pela sua mestria e originalidade.

Um outro núcleo significativo da colecção, correspondendo ao período de Transição (1620-1683), é caracterizado tanto por porcelana azul e branca, destacando-se o pote com o emblema religioso dos Jesuítas - I.H.S., com cruz partindo do traço do H e três cravos, rodeado por estilização de sol - e as iniciais S.P. do Colégio de S.Paulo, como por peças com decoração polícroma como é o caso do grupo Wucai, ou “cinco cores” que se impõe pela especificidade da sua decoração: cenas inspiradas no Panteão Taoísta, lendas e romances, senhoras tomando conta de crianças, etc.

Surgem-nos, depois, exemplares da dinastia Qing (1644-1911) com peças do grupo de “família verde” “família rosa” e “azul soprado” assim como um interessante serviço de jantar, datável do reinado Qianlong, com decoração de motivos vegetalistas. Destaque, ainda, para outras peças produzidas para o mercado tailandês e um conjunto de figuras de aves e animais, inspirados em exemplares de produção europeia.

Na sua colecção de porcelana chinesa, contrariando a preferência dos coleccionadores portugueses por peças decoradas com brasões ou temas ao gosto europeu, o Dr. Anastácio Gonçalves preferiu sempre as peças de exportação das épocas mais recuadas do comércio com Portugal.